Recomendações Gerais de Segurança

Quando realizamos exercício físico de forma correcta estimulamos o nosso corpo a produzir melhorias significativas a nível de força, resistência muscular, condicionamento cardiovascular e metabólico, flexibilidade e composição corporal.

❗️Mas este pode também causar graves lesões quando realizado de forma incorrecta.

Não deveria ser necessário dizer que o exercício físico deve ser realizado da forma mais segura possível, mas infelizmente observando a forma desleixada e aleatória que é comum ser exibida em alguns ginásios, com a utilização de pliométricos, movimentos balísticos, levantamentos olímpicos e modalidades que copiam o modelo CrossFit– é bem aparente que a grande maioria das pessoas não tem qualquer noção do elevado risco de lesão e dos danos a longo prazo provocados por estes tipos de treino inadequados.

Embora qualquer tipo de Atividade Física possua um risco de lesão associado, o exercício físico pode e deve ser realizado de forma tão segura e controlada, tornando-se uma das sub-categorias da Atividade Física mais seguras que alguém pode realizar.

A meu ver é completamente contraproducente e simplesmente uma enorme estupidez realizar qualquer tipo de atividade física – caracterizada ou “disfarçada” muitas das vezes por exercício físico – que ao mesmo tempo apresente um elevado nível de risco de lesão musculoesquelética, ou que coloque em causa a nossa saúde e capacidade funcional a longo prazo.

O exercício físico não tem nada a ver com a quantidade de repetições realizadas de um determinado exercício ou com a quantidade máxima de peso que conseguimos levantar. Exercício físico não se trata de um evento competitivo ou de um evento de demonstração de força. Muito menos em realizar uma séries de exercícios aleatórios dentro de um determinado intervalo de tempo apenas porque alguém assim o definiu.

EXERCÍCIO FÍSICO NÃO É COMPETIÇÃO!

Com isto, não quer dizer que o exercício físico tenha de ser fácil, pelo contrário, para que este seja eficiente deve envolver um bom nível de intensidade, onde esta é maximizada recorrendo à a execução correcta dos exercícios.

Não existe nem tem de existir qualquer tipo de conflito entre segurança e intensidade de esforço durante o exercício físico, pois não de tratam de eventos mutuamente exclusivos. Podemos aumentar significativamente a intensidade de um exercício sem aumentar o risco de lesão musculoesquelética.

Todavia, o empenho necessário para minimizarmos o risco de lesão é exatamente o mesmo necessário para maximizarmos a qualidade da carga e eficácia muscular durante a realização de um determinado exercício.

EFICIÊNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO

Não acho que devemos fazer exercício físico apenas por fazer, ou para provar que conseguimos realizar um conjunto de exercícios ou movimentos corporais apenas como forma de demonstrar as nossas habilidades e destreza física.

A meu ver o exercício físico deve ser feito com o objetivo de aumentar primariamente os nossos níveis de força e melhorar as nossa saúde e Habilidade Funcional. Permitindo-nos tirar partido de outras atividades e aspectos da nossa vida que considero serem mais importantes.

O MAIS IMPORTANTE 

Existem outras considerações, mas estas 3 – Segurança, Eficácia e Eficiência – têm a maior prioridade. Sendo o padrão pelo qual todos os métodos e programas de treino devem ser comparados, se considerarmos que o objetivo do exercício físico é aumentar os nossos níveis de força e melhorar a nossa qualidade de vida.

Recomendações Gerais de Segurança

Encontram-se a seguir listadas um conjunto de Recomendações Gerais de Segurança que devem ser seguidas e observadas durante o treino de forma a minimizarmos ao máximo qualquer tipo de risco de lesão.

1 – Velocidade de Movimento Lenta e Controlada.

2 – Respiração Adequada.

3 – Estabilização da Cabeça e Pescoço.

4 – Relaxamento de músculos Faciais, do Pescoço e de Preensão.

5 – Evitar dor de cabeça induzida pelo exercício físico.

6 – Compreender a diferença entre Dor e Desconforto Muscular durante períodos de maior esforço muscular.

 


1 – Velocidade de Execução do Movimento

A ciência diz-nos que podemos alcançar excelentes resultados no aumento dos nossos níveis de força, volume e resistência muscular utilizando vários tipos de cadências de movimento. Podemos alcançar excelentes resultados com movimentos mais rápidos, mais lentos ou algo no meio dos dois.

A ciência também nos diz que conseguimos obter resultados utilizando cargas mais baixas, realizando maior volume de repetições e cadências mais altas, assim como utilizar cargas mais altas um menor número de repetições e cadências mais lentas.

No fundo quase tudo funciona quando o objetivo é aumentar o nível de força, volume e resistência muscular. Mas não existe uma receita mágica, não existe um único programa de treino padrão que consiga proporcionar os melhores resultados para todo o tipo de indivíduo. 

O que existe são um conjunto de princípios básicos que devemos considerar e seguir, depois é tudo uma questão de experimentar no terreno e adaptar consoante os resultados apresentados em cada indivíduo. 

ver: 10 Mandamentos do Treino de Força

Existem indivíduos que respondem melhor a cargas mais altas e uma gama mais baixa de repetições, utilizando cadências mais rápidas. Outros respondem melhor com cargas mais baixas e utilizando um maior número de repetições e até com cadências mais lentas. Depois existem sempre as aberrações da natureza, pessoas geneticamente dotadas que qualquer coisa vai funcionar! Vão crescer e ficar maiores de qualquer forma, é impressionante.

Mas para para a grande maioria da população, diria mesmo acima dos 90% qualquer coisa no meio destes dois extremos vai resultar. Claro depois haverá sempre ajustes à medida que se vão tornando mais eficientes no treino…é como criar uma receita.

A vantagem de utilizarmos velocidades mais baixas utilizando cadências mais lentas é o facto de reduzirmos significativamente o risco de lesão durante a realização de um exercício.

“É um grande equívoco pensarmos que a utilização de cargas mais altas causam lesões durante um exercício. Muitos especialistas bem intencionados, recomendam reduzir a carga utilizada, mas não percebem que o verdadeiro perigo está relacionado com a quantidade de Força gerada;

A maioria das lesões ocorrem durante uma variedade de atividades caracterizadas como exercício físico sem que haja qualquer tipo de carga envolvida – pois é a própria aceleração dos membros que causam a lesão (exemplo: o impacto dos joelhos de um corredor, cotovelo de tenista, ombro de lançador de basebol, lesões na região lombar após apanhar uma bola de golfe do chão, até lesões utilizando cargas baixas e com maior nº repetições podem ocorrer durante o exercício físico).

A chave para minimizar o risco de lesão é minimizar a Força. A força corresponde à multiplicação da massa pela sua aceleração, uma lei da física:

Enquanto que será expectável conhecermos o valor da massa, a aceleração, o maior perigo é ignorado de forma quase universal pela maioria das pessoas. Se limitarmos a velocidade do movimento de execução – sem utilizamos movimentos explosivos, balísticos ou de arremesso – reduzimos significativamente o risco de lesão.

Isto permite a pessoas que estejam a reabilitar de uma determinada lesão, poder trabalhar directamente na área lesionada, reduzindo a probabilidade desta se tornar pior. E quando fortalecemos directamente a estrutura lesionada, vamos acelerar o processo de reabilitação.” – Ken Hutchins fundador da SuperSlow®

Assim:

  • Para mantermos o nível de força produzida durante um determinado exercício em valores seguros, vamos utilizar movimentos lentos e controlados, mesmo durante a fase de mudança de direcção quando chegamos à amplitude máxima de movimento – ou seja, evitando movimentos repentinos ou bruscos.
  • Movendo-nos de forma a levar pelo menos 4 segundos a completar a parte concêntrica (positiva) e 4 segundos durante a fase excêntrica (negativa) da repetição. Podemos utilizar um metrónomo definido para os 60 bpm ou um relógio analógico para conseguirmos contarmos os segundos e controlar melhor a cadência do nosso movimento.

Com a prática vamos conseguindo controlar este tempo na nossa cabeça, na dúvida basta abrandar e reduzir a velocidade. É preferível levar mais tempo cerca de 8 até 10 segundos do que aumentar a velocidade e causar qualquer tipo de lesão.

Durante a Aprendizagem de Novos Exercícios:

  • Ao iniciar um exercício, devemos começar por aplicar força de forma gradual contra a resistência externa. Vamos aumentando essa força até que haja ocorrência de movimento, depois aplicamos apenas a força necessária para continuar o movimento de forma lenta e controlada – durante pelo menos 4 segundos.
  • É muito importante estarmos concentrados em contrair de forma continua os músculos alvo durante o movimento. Exercício físico não é uma brincadeira, devemos permanecer focados e livres de distracções durante o nosso treino.
  • Quando nos aproximamos da fase final concêntrica (positiva) do movimento, procurar reduzir gradualmente a velocidade para podermos fazer a inversão do sentido do movimento, sempre de forma lenta e controlada – sem balanços, movimentos bruscos ou acelerações.
  • Durante a realização de exercícios multiarticulares – agachamento, prensa de pernas, prensa de peito, desenvolvimento de ombro, fundos, etc – podemos fazer a mudança do sentido do movimento antes de ocorrer a extensão total dos joelhos ou dos cotovelos, assim mantemos os músculos sob constante tensão muscular.
  • Durante a realização de exercícios multiarticulares que envolvam movimentos de puxar – remadas, elevações de braços, pula down, etc – e durante exercícios simples – movimentos rotacionais como flexão e extensão de braços e extensão e flexão de joelhos – podemos  fazer uma pausa durante breves segundos na posição de maior contracção muscular.

☝️Mas não devemos parar na fase final excêntrica (negativa) ou concêntrica (positiva) em que os braços ou ombros se encontrem a descansar.

  • Se estivermos a utilizar uma máquina, vamos estar atentos ao peso que sobe e desce na calha, este mal deve tocar na pilha de pesos durante a fase excêntrica do movimento.
  • Se utilizarmos pesos livres e começarmos com o peso a partir do chão, vamos também estar atentos e fazer com que este apenas toque ligeiramente no chão e imediatamente de forma lenta e controlada damos inicio à próxima repetição.
  • Quando parecer quase impossível ocorrer qualquer tipo de movimento na resistência externa, concentramo-nos em contrair intensamente os músculos solicitados. Fazendo todos os possíveis para mover a resistência, mesmo que esta não saia do sitio. 
  • Quando não conseguirmos continuar a fase final concêntrica (positiva) do movimento, continuamos a contrair os músculos durante alguns segundos (5 a 10 segundos, indivíduos avançados podem reduzir para 5 segundos).

E apesar de continuarmos a contrair intensamente os músculos e não ocorrer qualquer tipo de movimento – aí sim atingimos a falha macular momentânea.

  • Quando atingirmos a falha muscular momentânea não devemos acelerar ou sacrificar a técnica apenas com o intuito de terminar a repetição. O objectivo de um exercício físico é estimular o aumento dos níveis de força, volume e resistência muscular, não tem nada a ver com mover uma carga ou peso de baixo para cima.

The goal of an exercise is isn’t to make the weight go up and down. Don’t even think about the weight. Instead, focus on contracting the target muscles and performing the correct body movement. The weight just goes along for the ride – Ken Hutchins 

  • Por fim, não vamos apenas deixar cair o peso no chão, vamos procurar baixá-lo lentamente e reduzir gradualmente a força aplicada até este chegar de forma segura ao chão. O mesmo principio se aplica quando nos encontramos a mover um braço de resistência de uma máquina.

2 – Uma Respiração Adequada

  • Durante a realização de um exercício devemos manter uma respiração normal, procurar respirar de forma relaxada e o mais naturalmente possível. Se necessário podemos manter a boca ligeiramente aberta, isso vai-nos ajudar a respirar na fase mais intensa do exercício.
  • E evitar combinar a respiração com o movimento – expirar durante a fase concêntrica e inspirar durante a fase excêntrica ou vice-versa. Pois quando nos movimentamos lentamente durante um exercício, vamos precisar de estar constantemente a inspirar e a expirar durante cada repetição. É só respirar!
  • Devemos evitar travar a respiração contraindo os músculos do abdómen e peito enquanto tentamos expirar o ar mantendo a glote fechada – *Manobra de Valsalva.

Isto aumenta consideravelmente a pressão no abdómen e tórax, resultando no aumento repentino de Pressão Arterial (PA), podendo ser perigoso. Isto pode causar tonturas, náusea, e graves dores de cabeça induzidas pelo exercício físico.

❗️Algumas pessoas continuam a associar de forma errada contrações musculares fortes com a manobra de Valsalva. Esta associação pode ser difícil de quebrar em algumas pessoas, mas vai ser essencial.

  • Sempre que durante um exercício sentirmos uma vontade súbita de prender a respiração ou se nos apercebermos disso – vamos tentar respirar mais.

☝️É preferível sentir tonturas ligeiras por respirarmos de mais, do que sofrer enxaquecas horríveis pós exercício. Ou prejudicar o retorno venoso, o fluxo sanguíneo ou até desmaiar e levar com um peso em cima.

❗️Boca Livre de Alimentos, Pastilhas ou Rebuçados 

  • É comum ver pessoas a treinar com pastilhas e rebocados na boca, isso é extremamente perigoso.
  • Se estivermos a comer, mastigar pastilhas ou com rebocados na boca e nos engasgarmos pode ser fatal, principalmente se estivermos a treinar sozinhos.

3 – Estabilização da Cabeça e Pescoço

A nossa musculatura da cabeça e do pescoço não é solicitada de forma direta ou indireta ou posta sob carga na execução da maioria dos exercícios. 

  • Para reduzir o risco de provocarmos uma distensão muscular no pescoço ou provocarmos dores de cabeça, devemos minimizar o nível de tensão muscular nesta área durante a realização dos exercícios.❗️Para isso é importante mantermos a cabeça e o nosso pescoço numa aposição neutra. A posição ideal da cabeça e do pescoço pode variar ligeiramente de exercício para exercício, mas de forma geral a nossa cabeça deve encontrar-se direcionada para a frente e o pescoço encontra-se ligeiramente flexionado (o queixo ligeiramente a um punho do esterno, como se estivéssemos a prendar uma laranja entre o queixo e o externo).
  • Durante a execução de exercícios que envolvam a flexão de joelhos – Leg Curl – na posição de decúbito ventral, a nossa testa deve encontrar-se apoiada no colchão da máquina e o pescoço ligeiramente flexionado.

Posição Correcta do Pescoço e Cabeça – Máquina Flexora Joelhos.

❗️Devemos evitar também descansar o queixo na almofada, isto vai obrigar o pescoço a encontrar-se numa posição exagerada de extensão.

☝️Também não devemos apoiar a parte lateral da nossa cabeça no colchão, isto vai forçar o pescoço a fazer um movimento de rotação excessivo.

Estas 2 situações tendem a irritar os músculos do pescoço e podem até causar luxações musculares. 

 

4 – Relaxamento dos Músculos Faciais, do Pescoço e de Preensão 

Muitos equipamentos de musculação desenhados para o trabalho de membros inferiores possuem locais para colocarmos as mãos – as pegas. O seu único propósito é fornecer um local para descansarmos as mãos e se necessário podem também desempenhar um papel no posicionamento correcto do corpo durante o exercício.

Evitar Aplicar Força de Preensão.

É importante mantermos uma pega relaxada sempre que colocarmos as mãos nas pegas, pois a tensão muscular no antebraço pode causar um aumento desnecessário da nossa pressão arterial. E sempre que fazemos força de preensão temos também a tendência de começar a contrair os músculos do pescoço e faciais – fazendo aquelas caras feias e horríveis.

❗️Isso deve ser evitado!

A contracção excessiva de músculos que não estejam directamente envolvidos na realização de um exercício pode interferir com a nossa capacidade de manter a nossa concentração e em contrairmos de facto os músculos alvo.

  • Se tivermos a tendência em agarrar de forma excessiva as pegas do equipamento ou tenhamos dificuldade em contrariar esse hábito – podemos começar por colocar os polegares do mesmo lado das pegas, optando por uma pega falsa. 
Exercícios de Puxar nos Planos Horizontal e Vertical

Durante a realização de exercícios para a parte superior do corpo que envolvem movimento de puxada, vamos precisar de manter uma pega forte – logo é inevitável a tensão nos músculos do antebraço.

Remada Horizontal – Remada com Halteres.

O mesmo acontece nos exercícios que envolvem a barra olímpica, halteres – onde é importante manter uma pega segura de forma a controlar o peso.

Exercícios de Empurrar nos Planos Horizontal e Vertical

Mas na realização de exercícios multiarticulares que envolvem movimentos de empurrar em máquinas, não é necessário manter uma pega tão firme.

Prensa de Preito – Chest Press

  • Durante a realização de um movimento de prensa de peito ou de ombros, basta aplicar pressão com a palma da mão e podemos assim evitar aplicar força de preensão excessiva.
E Quanto às Caras Feias Durante 

É comum observar as pessoas contrair os músculos faciais, a cerrar os dentes e a fazer aquelas caras horríveis durante o exercício físico. Já para não falar nas contorções físicas, gritos e gemidos geralmente associados com a intensidade do exercício físico.

❗️Este tipo de comportamento é completamente contraproducente e deve ser evitado.

Todos os músculos que não estão a ser solicitados na realização do exercício devem permanecer relaxados, de forma a prevenir aumentos significativos da pressão arterial, e como forma de minimizar a tensão nos músculos do pescoço, permitindo assim aumentarmos a nossa concentração em contrair intensamente os músculos alvo. 

A maioria dos neurónios presentes no córtex motor primário (área do cérebro responsável pela contração voluntária dos músculos esqueléticos) controlam os músculos que constituem as áreas que requisitam maior precisão e controlo motor – a face, língua e as mãos. Comparativamente, as seções do córtex motor primário que controlam grandes grupos musculares que não requer tanta precisam motora –  músculos da anca, coxa – são muito pequenos. 

O simples facto dos músculos faciais requerem maior nível de actividade neutral na secção do córtex motor primário, pode de certa forma anular ou inibir a atividade neutral nas secções que controlam os músculos que estamos a trabalhar durante um determinado exercício.

Acabando por reduzir a intensidade de contracção nesses músculos (o nº de unidade motoras que somos capazes de recrutar) e diminuindo a eficácia do exercício. – Dr. Doug McGuff, MD

5 – Evitar as Enxaquecas Induzidas Pelo Exercício Físico

Se durante o inicio de um determinado exercício sentirmos qualquer tipo de dor de cabeça – Devemos Parar Imediatamente!

Pousar lentamente o peso no chão, relaxar alguns minutos podendo ser necessário fechar os olhos e respirar profundamente. Podemos continuar, logo que não existam qualquer tipo de sintomas de dor de cabeça.

Se a dor de cabeça não parar, então é preferível dar a sessão de treino como terminada, descansar 1 a dois dias até tentarmos treinar novamente. Se insistirmos em continuar a sessão na presença de dor de cabeça, esta pode agravar-se e evoluir para enxaquecas horríveis e até continuar alguns dias. Estes tipos de dor de cabeça são extremamente desconfortáveis, são enxaquecas muitos fortes.

Acredita-se que este tipo de enxaquecas estão relacionadas com a tensão nos músculos do pescoço, muito similar às dores de cabeça provocada por tensão muscular.

A melhor forma de combater isto pode ser em realizar exercícios de flexão e extensão do pescoço no inicio da sessão de treino, acabando por induzir fadiga e relaxamento nos músculos do pescoço. Estes exercícios são realizados como forma de minimizar a tensão muscular no pescoço durante a realização de exercícios mais intensos que envolvam maior número de massa muscular – agachamentos, prensa de pernas, supino, prensa de peito, peso morto.

Estas formas de enxaquecas poder ser causadas pelo alongamento da dura-máter (a meninge mais externa das 3 meninges que envolvem o cérebro) como resultado do aumento de pressão arterial nas veias cerebrais, causado pelo retorno de fluxo venoso em direcção ao cérebro.

O início destes tipos de enxaquecas está relacionado com a realização de exercícios intensos que envolvam grandes grupos musculares – pernas, anca, tronco – durante os quais existe uma quantidade de congestão venosa na pélvis e no abdómen.

Este tipo de congestionamento é o resultado da compreensão dos tecidos moles, resultantes da manobra de Valsalva e da enorme quantidade de retorno venoso das pernas estimulado pela intensa contração muscular.

Este enorme volume de congestão pode criar uma força suficientemente forte para levar o fluxo venoso na direcção cefálica (cabeça). Talvez em alguns indivíduos a força gerada seja suficiente para reverter o gradiente da drenagem venosa cerebral, fazendo com que o sangue venoso seja empurrado através das veias jugulares para a confluência dos seios da face.

…Teoricamente um nível limiar de venodilatação e transmissão de pressão teria de ocorrer antes que a dura-máter pudesse ser estimulada. Assim que este limiar seja alcançado, cuidado! A estimulação dural produz dor súbita e súbita que pode persistir por dias.Doug McGuff, MD – The Mystery of Exercise Induced Headache, in Vol. 5, Issue 3 of The Super Slow Exercise Standard.

Desta forma, durante a realização de exercícios que envolvam os membros inferiores, o aumento de pressão na região do abdómen pode fazer com que sangue venoso seja forçado a retornar às veias cerebrais, aumentando a PA no cérebro, ao ponto de alongar a dura-máter.

Se isto for correcto, a razão pela qual os exercícios de flexão e extensão de pescoço no inicio da sessão contribuem para a redução ou prevenção do aparecimento das enxaquecas não se deve ao nível de fadiga induzido nos músculos e diminuição de tensão muscular nessa área. Mas sim, parece estar relacionado com o aumento de pressão exercido pelas veias jugulares causado pelo edema em redor dos músculos do pescoço que diminui o fluxo de retorno sanguíneo. 

☝️Isto reduz PA nas veias cerebrais, que por sua vez reduz a pressão exercida na dura-máter.

O melhor é evitar estes tipos de enxaqueca, mas se ocorrerem existem algumas medidas que podem ser tomadas para minimizarmos o risco de voltarem a acontecer:

  • Não devemos travar ou forçar a respiração durante a realização de um exercício. Como foi referido anteriormente, isto causa aumento repentino dos níveis de PA.
  • Podemos executar exercícios de flexão e extensão do pescoço no inicio da sessão de treino. Uma das formas mais seguras de realizar este tipo de exercícios é recorrendo por exemplo a simples exercícios Isométricos:

Exercícios Isométricos – Flexão e Extensão do Pescoço.

  • Se formos realizar um treino de corpo inteiro – Full Body – podemos realizá-lo na ordem inversa, realizando primeiros os exercícios do tronco primeiro e por último membros superiores.

 

6 – Perceber a Diferença entre Dor e Desconforto Muscular

Quando realizamos Exercício Físico da forma correcta este produz sensações de intenso ardor e fadiga muscular, vamos sentir os efeitos agudos do aumento do débito e frequência cardíaca e do processo ventilatório. Por vezes podemos até santeiro alguma náusea e tonturas.

São apenas respostas fisiológicas que ocorrem dado o aumento do trabalho muscular – não são motivo para alarme durante o contexto de um treino.

❗️Mas o exercício físico não deve produzir ou causar dores agudas e repentinas, nem dores ou desconforto articular. Nem qualquer outro tipo de dor nas áreas do corpo que não estejam a ser solicitadas durante o exercício. 

Se sentirmos algo ou suspeitarmos que algo possa ser uma lesão, devemos parar imediatamente! Parar o movimento do braço de resistência se estivermos a utilizar uma máquina, ou colocar o peso no chão. E caso seja necessário pedir ajudar ao nosso instrutor ou parceiro de treino.

Devemos também evitar realizar qualquer outro tipo de exercício, independentemente do local da dor. Sempre que ignoramos uma lesão ou algo que pareça ser uma lesão e insistirmos em treinar – podemos vir a agravar a situação.

Se a dor for intensa ou se esta se prolongar por mais de alguns dias, pode ser uma boa ideia procurarmos concelho médico.

 

Concluindo

Devemos seguir sempre as seguintes recomendações durante a prática de exercício físico e insistir que estas sejam seguidas pelos nossos alunos:

  • Realizar cada repetição com uma velocidade lenta e controlada e procurar minimizar a aceleração quando invertemos a direcção do movimento.
  • Levar pelo menos 4 segundos a realizar a fase concêntrica (positiva) e 4 segundos na fase excêntrica (negativa) do movimento.
  • Procurar respirar de forma mais natural possível, sem forçar or travar a respiração durante o exercício.
  • Manter a boca livre de pastilhas, comida ou rebuçados.
  • Manter a cabeça e o pescoço numa posição neutra.
  • Relaxar os músculos faciais e do pescoço.
  • Relaxar as mãos durante exercícios onde a pegada não é utilizada para controlar o movimento.
  • Parar qualquer tipo de exercício imediatamente se sentirmos qualquer ligeiro sinal de dor de cabeça.
  • Compreender a diferença entre dor e desconforto muscular durante o exercício físico.
  • Parar imediatamente o movimento e baixar lentamente o peso ou até transferi-lo para parceiro de treino se acharmos que ocorreu uma lesão.
  • Evitar a prática de exercício físico com febre ou infecção.

 

Espero que este artigo vos seja útil. Lembrem-se, treinam de forma intensa mas treinem de forma inteligente e mantenham-se sempre seguros!