Conceitos Fundamentais Jiu-Jitsu

#1 – Sobreviver!

Priorizar a sobrevivência, a defesa e não perder em vez de buscar a vitória a todo custo.

Uma das conquistas mais significativas dos Grão-Mestres Carlos e Hélio Gracie, juntamente com sua família de praticantes de Jiu-Jitsu, foi a ênfase no conceito de DEFESA. Para eles, a capacidade de sobreviver perante um confronto real era consideravelmente muito mais relevante do que meramente procurar vencer. Aquele que não é derrotado, triunfa!

Esta realidade resultou em centenas de lutas com indivíduos de todos os tamanhos e vários estilos de artes marciais, em condições extremamente puras e violentas. Quando um indivíduo se mantém focado em sobreviver e em tentar não perder, tem muito mais oportunidade de capitalizar nos erros do seu oponente e evitar ser gravemente ferido, principalmente quando as coisas não estiverem a seu favor. 

Todas as posições, técnicas e conceitos devem começar com este princípio. Isso vai-nos proteger de erros e dos vários ataques do nosso agressor. Grão mestre Hélio Gracie disse uma vez: “A invencibilidade reside na DEFESA”. Não se trata apenas de uma preferência ou teoria, mas sim uma LEI do combate. 

Naturalmente, haverá ocasiões estratégicas em que devemos adotar uma abordagem agressiva contra nosso oponente ou agressor, utilizando todas as nossas habilidades e recursos físicos. Contudo, essa ação só deverá ser tomada após uma cuidadosa avaliação da situação.

Se compreenderemos este conceito de SOBREVIVÊNCIA e a capacidade de NÃO PERDER… Seremos impossíveis de ser derrotados.

Resumindo

  • Mudança de Mentalidade: Sobreviver e Defender em primeiro lugar! A mentalidade de sobrevivência, permite-nos proteger melhor e capitalizar nos erros do nosso oponente.
  • Sobreviver: Priorizar a Sobrevivência e DEFESA em detrimento da busca pela vitória a qualquer custo.
  • Defesa: Aquele que não é derrotado verdadeiramente triunfa.

 

#2 – Gestão da Distância 

Quem controla a distância controla o nível de dano na luta.

A nossa capacidade de controlar o nosso espaço pessoal, gerir a distância e o alcance do nosso oponente e em permanecer em “zonas verdes” e seguras, vai aumentar muito a nossa probabilidade de sucesso numa situação de luta onde possam existir golpes traumáticos.

Em todas as formas de luta, aquele que dominar e fizer melhor gestão da distância, consegue ditar o rumo do confronto e controlar o nível de dano que pode ser infligido.

No Jiu-Jitsu, aprendemos a tornarmo-nos confortáveis com a proximidade ao nosso oponente. Esta proximidade é também o mais desconfortável para alguém destreinado e sem conhecimento de luta. Geralmente, as pessoas são muito sensíveis quando alguém invade o seu espaço pessoal. 

Isso acaba por ser é um sentimento bastante natural, no entanto, é exactamente nesta proximidade onde ocorrem a maioria das situações de agressões. Se não treinarmos para nos sentirmos seguros e confortáveis nesta proximidade, não vamos ter grande chance de sucesso durante um ataque agressivo. 

Uma das principais filosofias do Jiu-Jitsu é a gestão da distância, isto envolve mantermo-nos muito próximos e colados ou então longe do alcance do nosso oponente. Sendo as duas “zonas verdes” onde nos devemos encontrar, pois permitem ao praticante de Jiu-Jitsu estar constantemente seguros contra todos os golpes mais comuns e perigosos.

Porque razão o controlo da distância ser tão importante?

Um agressor que pretenda desferir golpes traumáticos, como socos ou pontapés, precisa de se encontrar a uma distância apropriada para conseguir criar potência necessária no seu ataque. Se o agressor estiver longe e fora do nosso alcance, não será capaz de entrar em contacto. Por outro lado, se estiver muito próximo e colado a nós, a capacidade de criar potência nos seus golpes diminui significativamente. Numa escala de 0 a 10, onde 0 representa nenhuma severidade e 10 representa o máximo grau de severidade, à medida que o agressor se aproxima e fica junto e colado a nós, o grau de severidade dos seus golpes diminui para valores cada vez mais baixos.

Para criar energia cinética e potencial, o agressor necessita de estar a uma distância apropriada para desferir um golpe traumático devastador. A gestão eficaz dessa distância torna-se uma habilidade crucial na autodefesa, permitindo-nos não apenas evitar ataques, mas também gerir a severidade dos golpes que o agressor pode tentar desferir contra nós. O entendimento desta dinâmica contribui para uma abordagem mais estratégica e eficaz em situações de confronto real.

Exemplo: Quando dois pugilistas ficam envolvidos num Clinch, agarrando-se mutuamente, a capacidade de desferir golpes traumáticos para um nocaute diminui significativamente. Esta tática torna-se uma estratégia valiosa, especialmente quando ambos os atletas estão exaustos e se recuperam de golpes. Nesses momentos, agarrar o adversário não só reduz a probabilidade de receber golpes poderosos como também cria uma pausa estratégica no combate. É comum que, nessas situações, seja necessária a intervenção do árbitro para separar os dois atletas e permitir a continuação do combate de boxe. Sem essa intervenção, a trocação eficaz torna-se impossível, comprometendo a essência do combate desportivo de boxe.

As Zonas Verdes

Podemos adotar um sistema de cores semelhante ao utilizado nos sinais de trânsito para nos referir à gestão da distância entre nós e o nosso oponente. Assim como as luzes dos semáforos indicam diferentes estados, procuramos ocupar sempre a “zona verde“. Nessa zona, mantemos uma distância segura, onde o oponente não nos consegue alcançar com golpes traumáticos. Se este se aproximar, ajustamos a nossa posição, dando passos no sentido contrário para preservar a nossa segurança.

No contexto do Jiu-Jitsu, existe uma outra “zona verde“, quando estamos colados ao nosso oponente. Dentro desta proximidade, os golpes dele perdem energia cinética, tendo menos impacto e sendo menos propensos a causar danos significativos. Este processo envolve ultrapassar rapidamente a “zona vermelha(onde os golpes são mais perigosos) até alcançarmos a proximidade desejada.

É precisamente nesta “zona verde” que começamos a aplicar as nossas técnicas de Jiu-Jitsu. Este sistema de cores por zona proporciona uma abordagem visual e tátil para a gestão da distância, contribuindo para uma prática eficiente e segura.

A Zona Vermelha!

Entre as duas zonas verdes, encontra-se uma zona vermelha que representa perigo iminente. É precisamente nessa área crítica que o nosso oponente ou agressor pode gerar potência suficiente para nos nocautear ou causar danos incapacitantes. O nosso objetivo é ultrapassar com rapidez e segurança essa zona vermelha, movendo-nos para uma distância onde possamos agarrar e controlar o nosso oponente ou agressor.

A partir do momento  que nos encontramos agarrados e envolvidos com o nosso oponente vamos ter que responder a um par de questões pertinentes:

1. Qual a técnica de jiu-jitsu que posso ou devo utilizar?

2. E quais as técnicas que o oponente pode utilizar contra mim?

A amplitude de técnicas disponíveis no Jiu-Jitsu é verdadeiramente impressionante, e a chave para estarmos preparados para reagir a uma variedade massiva de situações reside na compreensão plena do princípio da distância. O espaço entre nós e o nosso oponente torna-se assim o elemento determinante, ditando quais técnicas podem ser executadas por ambas as partes e identificar o momento oportuno para a sua aplicação.

É a perceção e o controlo habilidoso dessa distância que abre as portas para a vasta gama de técnicas disponíveis no jiu-jitsu. Ao entendermos como gerir e ajustar a distância de forma estratégica, podemos adaptar as nossas táticas de acordo com as circunstâncias, aproveitando oportunidades específicas para aplicar as técnicas mais seguras, eficazes e eficientes. Assim, a maestria no princípio da distância não apenas amplia o nosso repertório técnico, mas também aprimora a nossa capacidade de resposta diante de uma diversidade de cenários.

Resumindo

  • Importância de dominar o espaço: Controlar o espaço entre nós e o oponente é crucial para determinar o nível de dano na luta.
  • Gestão de Distância: Quem melhor gerir a distância em relação ao oponente terá vantagem no confronto.
  • Confortável no Desconforto: No Jiu-Jitsu é fundamental estarmos confortáveis com a proximidade.
  • Zonas Verdes e Vermelhas: Adotar um sistema de cores (verde e vermelho) permite visualizar e manter uma distância segura, maximizando a eficiência e segurança no combate.
  • Dominar a distância: O domínio da gestão da distância amplia o repertório técnico disponível no Jiu-Jitsu, permitindo ao praticante adaptar-se a diversas situações de combate com eficácia e eficiência.

 

#3 Luta Agarrada “Grappling” vs Luta de Golpes “Striking” 

Durante vários séculos, as artes marciais baseadas em golpes traumáticos (Karaté, Taekwondo, Muay Thai, Savate, Sanshou (Sanda), KickBoxing, Boxing) foram consideradas o caminho do guerreiro. Após o primeiro UFC em 1993, o mundo foi exposto à verdadeira realidade de uma luta. Uma luta real é muito mais caótica do que as pessoas imaginavam e do que víamos nos filmes de Hollywood. Além disso, a realidade surpreendente da luta indo para o chão foi observada pela primeira vez. Até este ponto, muitas artes marciais nunca tinham abordado esse cenário.

As técnicas de golpe são fundamentalmente projetadas em torno da capacidade de gerar quantidades massivas de velocidade e potência para causar danos.

Isso apresenta 2 questões fundamentais:

– A vasta maioria das pessoas não tem capacidade física para criar velocidade e a potência necessária, estão completamente alienadas e afastadas de alcançar qualquer tipo de sucesso neste tipo de disciplinas.

– Embora um golpe traumático bem cronometrado possa certamente terminar uma luta, as chances de este conectar perfeitamente, no momento certo e sem a proteção de uma luva gigante, são bastante baixas. É mais provável acabarmos por atingir alguém e fracturar mão ou o pé, tornando essas “ferramentas” ineficazes.

Os golpes traumáticos podem ser eficazes? Sim, podem ser eficazes. Mas a probabilidade de uma luta ir parar no chão por nossa escolha ou não, fracturarmos a mão, magoar alguém mais do que o necessário, são muito mais prováveis. A luta agarrada ou grappling (Jiu-Jitsu) permite que as probabilidades estejam a nosso favor contra qualquer pessoa de qualquer tamanho. A capacidade do Jiu-Jitsu se adaptar ao indivíduo e às várias situações, torna-o muito eficiente, seguro e eficaz.

Resumindo

  • A luta no chão: O primeiro UFC em 1993 expôs a verdadeira natureza para milhares de pessoas do combate e revelou a importância da luta no chão.
  • Habilidades Físicas: A falta de habilidades físicas necessárias e a probabilidade de lesões ao usar golpes traumáticos são desafios significativos. 
  • A luta agarrada: O Jiu-Jitsu, com sua ênfase na luta agarrada, oferece vantagens em termos de adaptação ao indivíduo e às situações, tornando-o uma opção eficaz, segura e versátil contra oponentes de qualquer tamanho.

 

Técnicas vs Estratégia no Jiu-Jitsu

Quando abordamos o Jiu-Jitsu e os seus principais conceitos e princípios, é importante discutir a distinção entre técnicas e estratégia. Podemos entender as técnicas como os movimentos físicos reais que podemos empregar, enquanto a estratégia diz respeito à maneira como utilizamos essas técnicas.

Os conceitos mencionados anteriormente (Sobreviver, Gestão de Distância, Luta de Agarrada vs Striking) estão mais relacionados com a vertente estratégica do Jiu-Jitsu. Por outro lado, os próximos conceitos que vamos explorar ajudar-nos-ão a aprimorar as nossas técnicas e movimentos corporais. Embora também possam fazer parte de uma estratégia de combate, os próximos conceitos têm uma componente física mais pronunciada do que os mencionados anteriormente.

#4 – O Timing

Controlar o movimento, de forma a controlar a velocidade com que necessitamos de executar a técnica.

A técnica certa no momento errado é considerada a técnica errada. Podemos dizer que o timing na aplicação de uma determinada técnica é crucial, o que é válido em todas as atividades atléticas. Pode parecer que o timing está intrinsecamente relacionado com a velocidade, mas no Jiu-Jitsu nem sempre é o caso. 

Porque o Jiu-Jitsu assenta na nossa capacidade de controlar o nosso oponente; assim, o timing está mais relacionado com estarmos no lugar certo no momento certo. É fundamental perceber que ao controlarmos a situação, tanto os nossos movimentos como os do nosso oponente, conseguimos determinar a velocidade com que precisamos de executar as técnicas.

Quando se trata de escapar ao controlo e aos ataques do nosso oponente, o timing reside na habilidade de garantir que, quando uma posição está a começar, nos posicionamos de forma a aumentar as nossas hipóteses de escapar. Não necessariamente em escapar imediatamente, mas estar numa boa posição para escapar é de grande importância.

Ao treinar o timing, não devemos estar focados apenas na velocidade. Primeiramente, devemos concentrar-nos na perfeição técnica, assegurando que cada detalhe da posição ou técnica seja executado com precisão. Ao compreender como ganhar controlo em cada situação permitir-nos-á ter o timing perfeito em todas as circunstâncias.

Resumindo

  • Importância do Tining: O timing na aplicação das técnicas é crucial, sendo válido em todas as atividades atléticas.
  • Timing e Velocidade: No Jiu-Jitsu, o timing não está apenas relacionado com a velocidade, mas sim com o controlo do movimento, permitindo determinar a velocidade necessária para executar as técnicas.
  • Posição antes de tentar escapar: No contexto de escapar ao controlo e aos ataques do nosso oponente, o timing envolve posicionarmo-nos de forma a aumentar as chances de escapar, dando prioridade a uma posição favorável em vez da fuga imediata.
  • Busca da Perfeição Técnica: É crucial mantermos o foco na perfeição técnica antes de procurar velocidade.

 

#5 – A Base

Capacidade de manter o equilíbrio contra resistência externa.

A definição de base no Jiu-Jitsu reside na nossa capacidade de encontrar e mantermos o equilíbrio contra uma determinada força ou resistência externa. Quando estamos em equilíbrio, somos capaz de permanecer em pé. Sempre que nos encontramos em base, criamos uma estrutura para manter o equilíbrio e resistir a forças externas de empurrar e puxar. Cada técnica em pé e posição dominante no solo – como um controlo lateral, joelho na barriga ou montada – necessitam de BASE.

Uma forma de visualizar a base é imaginando um triângulo. A forma de um triângulo perfeito é equilibrada, assim como a posição de luta. A parte superior do nosso corpo (ponto superior) em combinação com ambas as nossas pernas (pontos inferiores) formam essa estrutura e demonstram uma posição equilibrada ideal. No entanto, essa postura e posição devem ser fluidas, móveis, mas também estáveis.

Desta forma, devemos procurar manter uma base contra uma determinada força externa sem comprometer demasiadamente o nosso peso, de forma que este não possa ser utilizado contra nós. Se a nossa postura inicial e base não conseguirem resistir à força externa, a nossa posição de base deve mover-se. Esta deve ser fluida. Se conseguimos prestar atenção onde se encontra a nossa base na maioria das nossas posições e técnicas, as nossas técnicas tornar-se-ão muito mais eficazes e eficientes.

Resumindo

  • Definição de Base: a base no Jiu-Jitsu é a capacidade de manter o equilíbrio contra uma resistência externa, sendo essencial para permanecer em pé e resistir a forças de empurrar e puxar.
  • Estrutura de Equilíbrio: cada técnica em pé e posição dominante no solo requer uma base sólida para permanecermos em equilíbrio e resistirmos  às forças externas.
  • Visualização da Base: a base pode ser representada como um triângulo perfeito, onde o corpo e as pernas formam uma estrutura equilibrada e estável.
  • Fluidez e Estabilidade: a postura e posição da base devem ser fluidas, móveis e estáveis ao mesmo tempo, permitindo adaptação às mudanças nas circunstâncias.
  • Adaptação da Base: se a base inicial não resistir à resistência externa, é necessário mover a posição da base de forma fluida, mantermos-nos sempre conscientes da sua localização para aumentar a eficácia e eficiência das técnicas.

 

#6 – A Postura

Manter bom alinhamento estrutural.

Quando pensamos em postura, naturalmente podemos pensar em “Cabeça erguida e costas direitas”. É uma forma de visualizar isso, mas nem sempre é suficientemente clara. A POSTURA no Jiu-Jitsu resume-se a compreendermos o nosso alinhamento estrutural e posição da nossa coluna. Isso vai garantir que nos encontramos numa posição segura e que o nosso corpo se encontre o mais forte possível a nível estrutural.

Por exemplo, quando executamos a queda de Baiana (Morote gari, Double Leg Takedown), os nosso joelhos vão encontrar-se flectidos, as costas estarão ligeiramente inclinadas para a frente e a nossa cabeça estará erguida. Se fizéssemos um desenho de cada membro e analisarmos o ângulo do nosso corpo, devemos observar um excelente alinhamento estrutural. Postura perfeita. Trata-se de alinhamento. 

Outro exemplo, quando nos encontramos deitados de costas no chão numa posição desfavorável, vamos manter boa postura mantendo os braços recolhidos e o nosso e corpo alinhado, totalmente preparados para nos movimentar e começar a escapar. Devemos estar sempre focados em manter boa postura!

Resumindo

  • Importância da Postura: a postura no Jiu-Jitsu refere-se ao alinhamento estrutural e à posição da nossa coluna, garante uma posição segura e fortalece o nosso corpo.
  • Postura em Situações Desfavoráveis: mesmo em posições desfavoráveis, é importante manter sempre o corpo numa correcta postura e alinhado facilitando a nossa capacidade de nos mover e escapar.
  • Boa Postura: independentemente da situação, é essencial mantermos sempre uma boa postura para garantir eficácia e segurança no Jiu-Jitsu.

 

#7 – A Distribuição do Peso

Saber onde colocar, concentrar e movimentar o peso do nosso corpo.

À medida que envelhecemos a nossa capacidade atlética e velocidade vão diminuindo. Por isso, devemos estar sempre focados em refinar e apurar a nossa nossa técnica, isso vai-nos permitir transcender alguns dos declínios do processo de envelhecimento.

A distribuição de peso é um conceito presente em todas as técnicas do Jiu-Jitsu, sendo fundamental desenvolver a sensibilidade de como utilizar, colocar e movimentar o peso do nosso corpo. O peso está relacionado com o conceito de BASE, nas posições onde nos encontramos em pé, uma base inadequada pode levar à distribuição do nosso peso a mover-se em direcções desfavoráveis, fazendo com que percamos o equilíbrio e comprometer a POSTURA. 

O uso adequado do nosso peso vai-nos permitir projectar o nosso oponente de forma muito mais eficaz e eficiente. Sem termos de recorrer ao uso excessivo de força física, poupando energia.

A distribuição de peso no chão aplica-se a todas as posições onde nos encontramos tanto por baixo como por cima do nosso oponente. Utilizar o peso quando estamos por cima do nosso oponente pode parecer óbvio, mas existem muitas nuances. Devemos desenvolver a sensibilidade em saber aplicar o nosso peso e como movimentá-lo, isso vai fazer toda a diferença durante a luta.

Utilizar e aplicar o nosso peso quando nos encontramos por baixo do nosso oponente não é tão claro para o praticante iniciante. Se imaginarmos a posição de guarda fechada, o bloqueio das nossas pernas em torno do oponente permite-nos ter um movimento constante de tracção. Esta é uma forma de utilizar o nosso peso de baixo para cima, recorrendo às pernas para colocar peso contra a zona lombar, quebrando a sua postura e manter a sua anca mais próxima do chão. Vamos também perceber que, sempre que conseguimos criar ângulos de baixo para cima, vamos notar uma capacidade de usar o peso das nossas pernas, braços e quadril de forma muito mais eficaz. 

Ao longo da prática de todas as técnicas, devemos prestar muita atenção como o nosso PESO está a ser ou não utilizado!

Resumindo

  • Melhoria Técnica: Com o nosso envelhecimento, é essencial focar na melhoria da técnica para superar os declínios atléticos.
  • Distribuir o Peso: O conceito de distribuição do peso está presente em todas as técnicas do Jiu-Jitsu, envolve entender como usar, concentrar e mover o peso do nosso corpo.
  • Peso e Base: Uma base inadequada pode comprometer a distribuição de peso, levando à perda de equilíbrio e comprometer a nossa postura. 
  • Saber utilizar o Peso: A utilização adequada do peso facilita a execução de técnica de projecção.
  • Distribuição do Peso: A distribuição de peso no chão aplica-se em todas as posições, tanto por cima quanto por baixo do oponente.
  • Peso de baixo para cima: Mesmo por baixo do oponente, recorrendo à guarda fechada é possível utilizar o nosso peso para criar movimentos consistentes de tracção e domínio.
  • Atenção à aplicação do peso: Durante a prática, é crucial prestar atenção à forma como o nosso peso está a ser ou não utilizado.

 

#8 A Conexão

Nos últimos anos, o termo conexão tornou-se uma palavra da moda na comunidade do Jiu-Jitsu. Várias pessoas começaram a utilizar e a prestar atenção nesta palavra depois que o mestre Rickson Gracie começou a usá-la e explicar muitas das filosofias por trás dela. 

A Conexão pode ser compreendida a 3 níveis:

  Conexão do nosso corpo relativamente à nossa estrutura e força.

Por exemplo, se tivermos um postura e alinhamento certos, estaremos mais conectados e somos mais fortes. Se estivermos a executar uma queda ou projecção e estivermos a utilizar as pernas, braços, quadril e o resto do nosso corpo de forma correcta, vamos estar mais conectados e teremos uma projecção mais fácil e suave.

2º Conexão do nosso corpo com uma superfície.

Vamos imaginar que nos encontramos de costas no chão e presos numa posição desfavorável. Para nos movimentar, fazer uma ponte ou criar ângulos, vamos ter que utilizar os pés para empurrar uma superfície, seja o chão ou o nosso oponente. Isso vai tornar o nosso movimento muito mais forte e também será importante se formos forçados a utilizar resistência. Em algumas situações, podemos conectar os pés ao chão para nos mover e depois perder o contacto com o chão e perder o equilíbrio. Isso acaba por nos colocar de volta no mesmo lugar onde começamos. Praticantes de lutas de golpe traumáticos, como os pugilistas, devem utilizar a conexão com o chão ao golpear. Pois se não o fizerem, não serão capazes de gerar qualquer tipo de poder. O conceito de conexão transcende as artes de luta agarrada.

3º Conexão de uma força positiva e negativa.

Esta terceira forma de conexão é a mais difícil de explicar. Ainda é algo com o qual a maior parte dos praticantes estão a trabalhar e a tentar desvendar dentro da comunidade do Jiu-Jitsu. 

Podemos perceber este tipo de conexão em certas posições, por exemplo, sempre que removemos a “folga”. Se estivermos a segurar a gola do nosso oponente e puxarmos para baixo, haverá uma diferença perceptível. Outro exemplo, quando puxamos para baixo na gola, vai existir menos folga, facilitando o timing, a sensação e o contra-ataque dos movimentos do nosso oponente, pois vamos estar conectados a ele.

Em relação a “forças positivas e negativas”, imaginemos o seguinte…  que alguém nos está a empurrar. Em teoria, vamos poder utilizar o empurrão e o peso dessa pessoa contra ela. O problema que surge com isso é o seguinte… se a pessoa nos empurrar e tentarmos desviar a sua energia, o que a impede de contra-atacar? Essencialmente, quando ela nos empurra e nós puxamos, nada a impede de resistir. Então, para neutralizar isso, devemos usar esta ideia de conexão. Se ela nos empurra, primeiro, resistimos ao empurrão dela. Não devemos resistir demais, isso pode ser utilizado contra nós. Empurramos para resistir e isso cria conexão. 

Para o nosso oponente realmente nos empurrar, eles acabam por se comprometer de forma exagerada ao empurrar. Quando isso acontece, a força excessiva deles ao empurrar vai fazer com que a sua projecção e derrube seja muito mais fácil para nós. Daí a CONEXÃO… 

Se o adversário empurra > empurramos de volta > quando ele empurra com mais força > utilizamos isso contra ele. 

Se ele puxar > puxamos um pouco de volta > quando ele puxar com mais força > utilizamos isso contra ele.

 

Resumindo

  • Conexão do Corpo com a Estrutura: envolve postura e alinhamento corretos para aumentar a força e eficácia dos movimentos, como derrubes e projecções.
  • Conexão do Corpo com a Superfície: utilização dos pés para empurrar o chão ou o oponente, melhorando a força dos movimentos e mantendo o equilíbrio.
  • Conexão de Forças Positivas e Negativas: compreensão complexa que envolve remover a “folga” para facilitar o timing e os contra-ataques, além de neutralizar as forças do oponente ao empurrar ou puxar.

 

#9 Jiu-Jitsu Marcial / Rua & Defesa Pessoal, Desporto e Arte 

Na era moderna, o Jiu-Jitsu consegue oferecer algo único para todos.

Recentemente, tem havido um crescente foco na vertente desportiva dentro do Jiu-Jitsu, o que trouxe algumas melhorias, mas também diminuiu alguns dos aspectos originais da arte marcial.

É importante ensinar um currículo e um sistema de Jiu-Jitsu adaptável a qualquer indivíduo, até porque todos têm razões únicas para praticar Jiu-Jitsu. Aqueles que desejam competir no desporto do Jiu-Jitsu vão ter sempre essa oportunidade, mas nunca devemos comprometer a sua eficácia ou afastar aqueles que não estão interessados no aspeto desportivo e competitivo.

É importante esclarecer a ideologia por trás do Jiu-Jitsu Marcial  vs. Jiu-Jitsu Desportivo vs. Jiu-Jitsu como Arte.

Jiu-Jitsu Marcial / Defesa Pessoal na Rua Vamos utilizar todos os meios necessários para sobreviver e/ou assegurar a vitória em situações perigosas ou potencialmente de vida ou morte.

– O treino de Jiu-Jitsu para situações de defesa pessoal na rua deve considerar todas as variáveis possíveis que podem ocorrer num confronto real, incluindo, mas não se limitando a, golpes traumáticos, chão de cimento ou calçada, armas, múltiplos agressores, etc. Este tipo de treino representa o Jiu-Jitsu na sua forma mais pura, desprovida de qualquer elemento que não seja eficaz.

Jiu-Jitsu Desportivo – Consiste treinar Jiu-Jitsu dentro dos limites de regras e parâmetros acordados, por uma entidade reguladora (ex: IBJJF)

– O treino de Jiu-Jitsu em vertente desportiva permite ao praticante competir dentro de limites de tempo, categorias de peso, restrições técnicas, etc., com o objetivo de vencer o “jogo”, também conhecido como LUTA. Embora este tipo de treino ocorra ao nível avançado, pode representar um obstáculo para a compreensão dos conceitos e princípios mais profundos nos quais o Jiu-Jitsu se baseia.

Jiu-Jitsu como Arte – Envolver treinar Jiu-Jitsu da forma mais pura. Utilizar a MENOR quantidade de energia, velocidade, força e atributos naturais; enquanto se usa a MAIOR quantidade de técnica, alavanca, astúcia e estratégia.

– Treinar Jiu-Jitsu como arte é a essência pura da prática. Domina-se verdadeiramente a arte do Jiu-Jitsu quando se pode treinar, lutar e ensinar com os atributos acima mencionados, completamente livre das habilidades naturais e forças individuais. Isto é o que permite que o Jiu-Jitsu seja atemporal e que todos possam praticá-lo para sempre.

Resumindo

  • Jiu-Jitsu Marcial / Defesa Pessoal na Rua: utilizar todos os meios necessários para sobreviver ou garantir a vitória em situações potencialmente perigosas ou de vida ou morte. O treino deve considerar todas as variáveis possíveis, como golpes traumáticos, chão duro, armas e múltiplos agressores, representando o Jiu-Jitsu em sua forma mais pura e eficaz.
  • Jiu-Jitsu Desportivo: competir dentro dos limites de regras e parâmetros estabelecidos por uma entidade reguladora, como a IBJJF. Envolve competir dentro de limites de tempo, categorias de peso e restrições técnicas, com o objetivo de vencer a luta. Pode ser um obstáculo para compreender os princípios mais profundos do Jiu-Jitsu.
  • Jiu-Jitsu como Arte: treinar o Jiu-Jitsu de forma pura, usando o mínimo de energia, velocidade, força e atributos naturais, enquanto se enfatiza a técnica, alavanca, astúcia e estratégia. Representa a essência da prática, onde se domina verdadeiramente a arte quando se pode treinar, lutar e ensinar com os atributos mencionados, libertos das habilidades naturais e forças individuais. Isso permite que o Jiu-Jitsu seja atemporal e acessível a todos.